(Muitos professores e seus compêndios), com a justificativa de "incentivar a cidadania", incutem ideologias anacrônicas e preconceitos esquerdistas nos alunos
Assim, a Revista Veja, em sua edição 2074, de 20 de agosto de 2008, intitula uma matéria que tem por centro a educação brasileira.
A publicação alerta para uma concepção pedagógica que dá enfoque a uma percepção crítica da realidade, mas deixando em segundo plano os conteúdos abordados, ofuscados por uma espécie de proselitismo de esquerda.
Veja procura demonstrar que a percepção positiva de pais, alunos e professores, acerca do sistema de ensino nacional, contrasta diretamente com os resultados obtidos por esses estudantes quando são submetidos a avaliações com alunos de outros países (segundo dados estatísticos fornecidos pela reportagem, em geral, os brasileiros ocupam as últimas posições).
Certa vez, Machado de Assis, comentando um recenseamento feito pelo então Império do Brasil, disse:
Gosto dos algarismos, porque não são de meias medidas nem de metáforas. Eles dizem as coisas pelo seu nome, às vezes um nome feio, mas não havendo outro, não o escolhem. São sinceros, francos, ingênuos. As letras fizeram-se para frases; o algarismo não tem frases, nem retórica.
Assim, poder-se-ia até considerar temerário discutir a qualidade do ensino do país quando os dados estatísticos apontam a existência de um desnível intelectual entre alunos daqui e outros estudantes, de sistemas de ensino das mais diversas nações. Este é nosso fato objetivo, a realidade, e desmentir isso soa como loucura.
Longe de não termos condições para diagnosticarmos nosso grande problema, nosso maior obstáculo está exatamente em não reconhecermos tal situação como um problema. Dizem que o primeiro passo para se resolver algo é reconhecer sua existência; não fazemos isso! Bom, pelo menos uma grande parte de nós!
São Tomás de Aquino dizia que ensinar consiste em fazer passar de potência a ato razões seminais infundidas em todos os seres humanos; estimular a razão para que possa desenvolver todas as suas potencialidades.
O cérebro humano é um órgão complexo, que possui áreas distintas responsáveis pelo processamento de informações referentes a diversos campos do saber. O desenvolvimento de umas afinidades, em relação a línguas, ciências exatas, biológicas ou humanas, se explica, de alguma maneira, pelo progresso potencial de umas áreas em relação a outras. Dons diferentes, para pessoas diferentes. É uma característica uniforme, de um mundo plural: todos tem alguma aptidão e ninguém possui todos os talentos. Deus distribuiu reflexos de sua perfeição em todas as coisas, de maneira que em cada ser humano se pudesse manifestar a sua glória.
Assim, devido ao grau de complexidade que o conhecimento das coisas vai adquirindo ao longo do tempo, aliado ao desenvolvimento das potencialidades humanas as quais tendem a se dirigir em direções que vão ficando cada vez mais patentes (vocações), passa a ser necessário que o aluno tenha um contato cada vez mais profundo com as múltiplas áreas do saber; daí, professores especializados em frações específicas do conhecimento - e não mais um único para todas - passam a fazer parte de sua vida escolar. Já era assim na Idade Média, com as artes liberais: o trivium, que reunia a Gramática, a Retórica e a Dialética; o quadrivium, com a Aritmética, a Geometria, a Música e Astronomia. Eram liberais porque carregavam intrinsecamente o objetivo de fazer o homem livre; em oposição ao conceito de artes servis, com foco nos ofícios, essas disciplinas, estudadas por si, deveriam permitir o pleno exercício do livre-arbítrio humano. E isso era "educar para a cidadania" (Na verdade, continua sendo).
Mas nos dias de hoje, o conceito sofreu uma alteração; foi deturpado. O século XXI nos brinda com uma base comum que abrange a Matemática, a Língua Portuguesa, a Biologia, a Física, a Química, a Filosofia, entre outras disciplinas, mas a educação para a cidadania tem um novo viés: ao invés de contemplar o exercício pleno do livre-arbítrio humano, quer arbitrar à liberdade humana o seu exercício pleno. Enquanto antes o homem reunia condições para realizar uma escolha, agora, fazemos a escolha pelo homem, tornando desnecessário oferecer-lhe condições. E a escolha é a luta de classes.
Assim, não é preciso conhecer o que são produtos notáveis. Necessário é notar que o status quo é um produto da exploração da elite sobre os menos "favorecidos". Em lugar de favorecer os alunos com o conhecimento, deseja-se desfavorecer os "privilegiados" utilizando uma igualdade quimérica, obtida pelo conflito entre classes. É evidente que isso deve levar a um certo desprezo pelo progresso intelectual. Nivelou-se por baixo. Ao invés de subir a escada em direção a andares mais altos, querem que desçam aqueles que estão em cima e, desrespeitando sua liberdade de escolha, ao ouvir a recusa, atiram pedras a fim de obrigá-los. A primeira coisa que se perde é o respeito, uma vez que a noção de hierarquia deixa de existir. Ninguém consegue mais ser subordinado a ninguém, porque a utópica isonomia não admite superiores e inferiores. E uma das relações afetadas com tal conceito é exatamente aquela entre o professor e o aluno.
Primeiro se perde o estímulo intelectual, a referência; depois, a hierarquia e com ela a disciplina, o respeito, o bom senso. A estratégia básica de uma pedagogia escravizante é essa: perde-se, antes, os fins; depois, os meios para alcançá-los. Por último, perde-se o controle, minimizando drasticamente qualquer possibilidade de reversão do processo. É a doença degenerativa do raciocínio lógico. Não que ele se destrua definitivamente, mas ensinamos aos estudantes como não utilizá-lo, ou melhor, como encarcerá-lo.
Nesse sentido, a Matemática vem ao socorro da verdade, como se fosse uma luz providencial que situa as ações humanas em seu devido lugar. Quando, exercitando a retórica, querem provar que não há superiores e inferiores, os algarismos de Machado e a Aritmética vêm estabelecer a fria sentença: dois é diferente de três. Três é maior que dois. Há hierarquia nos números, por que não haveria entre os seres humanos? Não sem razão, era (e ainda é) uma arte liberal. Ela liberta a razão das amarras de quem quer ocultar-lhe a verdade. O Angélico sentenciaria: "é preciso respeitar a ordem que Deus estabeleceu: E Ele estabeleceu que os inferiores fossem subordinados aos superiores". Ir de encontro a isso é querer provar que dois mais dois são cinco. E fazer isso não é exercer a liberdade, tampouco a cidadania; é, ao contrário, ofender a liberdade a qual, verdadeiramente, por sua natureza de semelhança com o Criador, "não consiste em fazer o que se tem vontade, mas o que se deve porque se tem vontade" (cf. Sto. Agostinho) e ser excluído da cidadania, porquanto esta pressupõe o pleno exercício de direitos, entre os quais está o autêntico livre-arbítrio.
"Há um pensamento que pára o pensamento e este é o único pensamento que deve ser parado", diz Gilbert Keith Chesterton. Há um ensinamento que pára o ensino e este é o único ensinamento que deve ser parado, digo eu. Educar para cidadania é ensinar princípios básicos para que o estudante possa realizar sua própria escolha. Pede-se que as aulas se voltem ao contexto do aluno. Mas é o aluno que deve ter fundamentos para aplicar os princípios aprendidos a qualquer contexto, iguais ou distintos do seu. Não são os professores que têm que descer a escada; os estudantes é que devem subir e aos docentes cabe dar-lhes a mão.
A verdadeira isonomia se dá quando o aluno aprende os fundamentos que lhe permitam, tanto como os outros cidadãos, exercer eficazmente o seu próprio livre-arbítrio, saindo de uma condição de desfavorecido para uma outra, autônoma. Não através da revolta com aqueles que chegaram até lá - “esta não é a sabedoria que vem do alto, mas é uma sabedoria terrena, humana, diabólica” (cf. Tg 3,15) – mas inspirado no exemplo de homens virtuosos, nos mais ortodoxos valores morais, no amor à sabedoria e ao conhecimento da Verdade. Quando o homem cresce à custa de sua própria altura e não iludido pela diminuição dos outros ao seu nível. Como nos diz São Paulo: “aspirai as coisas do alto” (cf. Cl 3,1). “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Os insensatos desprezam a sabedoria e a instrução” (cf. Pr 1,7).
3 comentários:
clap, clap, clap, clap! (ou qualquer outra onomatopéia para palmas :-))
Pax Christi!
Demorei mas vim ler o seu artigo. Assim é covardia, nem dá vontade de escrever um, só de copiar o seu lá no bloguinho :-).
Vi que você tem outro blog, mas que está inativo... o que falta para ativá-lo??? Precisamos de mais vozes (nada a ver com a editora hehehehe). Aliás, pelo nome que consta lá seria ideal para aderir à nossa campanha.
Abraços, obrigado pela visita e fique com Deus!
Prezado Christiano,
Agradeço o comentário e que bom que gostaste.
Publiquei o mesmo artigo no Pastoralis e Sociedade Católica.
Quanto ao outro blog, na verdade, foi uma tentativa fracassada. Na realidade, falta-me vocação para os blogs e disciplina para escrever com alguma regularidade, por conta de meu tempo e também de uma certa inspiração que, cismaticamente, aparece apenas quando quer [:(]
Esse aqui foi criado por conta de meus alunos e de meu ofício e gostaria de fazer dele um espaço para professores católicos conversarem, a fim de que deixem de ser vozes (nada a ver com a editora) isoladas na multidão de relativismo que nos assola.
Gostaste do título do outro? Tens algum plano pra ele? Se sim, diga que a gente faz uma equipe e dá vida aquilo lá.
Pax,
Prezado Thiago,
Realmente a blogosfera exige muito inspiração e consome algum tempo, mas não tem o que temer, tudo isso nós aprendemos a administrar. Importante é não calar ;-), nem que seja para reproduzir notícias com alguns comentários mínimos. Vamos pensar com carinho em reavivar o outro blog.
[]'s
Christiano
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