sábado, 12 de março de 2016

Efêmeras Efemérides

Deixar as fronteiras de Aquino, invariavelmente resulta em exercitar os sentidos e, em consequência, a vontade e a consciência as quais, devidamente ordenadas, devem convergir para uma efetiva liberdade. Os muros escondem a intranquilidade de terras deixadas à mercê do domínio de uma variedade de almas que sincronizam de forma inexata as coordenadas de destino dos meios empregados à consecução de seus fins, nem sempre correspondendo aos pontos colineares que caracterizam a retidão da estrada desejada pelo Senhor de Tudo. Operam como um "firewall", com intuito de impedir a perturbação, associando-se ao livramento requisitado durante a Liturgia Eucarística: "Livrai-nos de todo o mal, Senhor, e dai ao mundo a paz em nossos dias, para que, ajudados pela vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e de toda a perturbação". De fato, as muralhas se erguem ao redor do castelo, buscando garantir a paz aos dias de Aquino.

Mas o castelo tem portões e sua face janelas de observação, olhos abertos ao exterior para evitar que o interior seja surpreendido e a tranquilidade do condado perca sua estabilidade habitual e virtuosa. A missão dos sentinelas de Aquino é deixar o castelo sempre a par do que ocorre fora das fronteiras com vistas a uma perpétua preparação para o desconhecido. Romper os limites do condado permite constatar a volatilidade da vontade, consequência de uma liberdade sem freios e da ausência de um horizonte absoluto, casos em que a busca pela Verdade encontra o labirinto relativista como obstáculo. Sem saber exatamente o que procurar e sob a ilusão de disfarces bem elaborados, não é raro acabar ciclicamente em um beco sem saída.


Não bastasse desviar dos ardis sofisticados, obsta o horizonte o excesso de frivolidade, como tempestades de areia a excitar demasiadamente os sentidos. A bruma sobrecarrega a visão, os fortes ventos estrilam os ouvidos e a sílica amolga o tato. Respirar se torna difícil e o paladar não agrada. Assoberbada pelos múltiplos estímulos, a razão, desprevenida, se perde e sucumbe, logo gerando mais combustível fútil, petróleo que, cobrindo a alma, enegrece a luz; ofusca seu brilho natural.

Assim é que, antes de deixar as muralhas do condado, é mister se submeter a um profundo exercício preliminar, como aqueles que os cristãos fazem durante períodos convenientes como a Quaresma e o Advento, garantindo incessantemente o treinamento, protocolos de ação, para reconhecer e lidar com ameaças e tentações e, pedindo ao Criador a fortaleza, oferecer-lhes resistência a fim de, em toda parte, agir com retidão, segundo Seu desígnio.

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